Vivemos atualmente um grande colapso das relações. Posturas cada vez mais carentes e egoístas decretam a bancarrota do relacionamento humano. A ambição desmedida pelo sucesso profissional ou virtual sob um narcisismo desenfreado faz com que não se veja mais o outro além de um empecilho à própria vaidade ou uma escada para seus interesses.

Ninguém mais aceita críticas ou rejeições, não porque se acham a última bolacha do pacote, mas devido a grande frustração coletiva pela falta de afeto. 

Todo mundo quer amor e atenção, mas pouco gente dá. Todo mundo quer ser admirado, mas a maioria finge que não vê as qualidades do outro. Para não se sentirem inferiores, negligenciam o potencial dos outros, criam defeitos e os usam como lixo para projetar suas próprias sujeiras e, assim, não terem de encará-las.

Então, as pessoas entram no ciclo vicioso, falam, falam e não escutam porque quando chega a vez do outro falar, desviam a atenção em uma disputa de quem não tem autoestima e busca desesperadamente por um valor em si mesmo. Assim, ganhar não quer dizer ser o melhor, mas ser o melhor é que significa ressaltar o pior do outro.

O ego vira profissional em seu trabalho de distorcer a realidade para que as pessoas não enxerguem o que as desconforta sobre elas mesmas.

Então, brigam com todos que os apontam a verdade de suas falhas para manterem vivo um ideal de si mesmos que não existe.

As pessoas estão construindo personalidades virtuais e trazendo para a vida real esses personagens com suas curtidas mecânicas, seus coraçõezinhos meramente ilustrativos, seus sorrisos no sentido figurado, onde a única coisa genuína é a raiva de ser contrariado, por negarem-lhe aplausos e bajulações, gerando uma necessidade cruel de vingança que se espalha pelo mundo e termina na inimizade ou em uma briga que finaliza e mata seja no trânsito, no bar ou dentro de casa.

A demanda de afeto e reconhecimento está escassa, enquanto a procura está alta. Então, sobram sentimentos negativos, enquanto a dedicação e o carinho ficam para os “bobos”. Ser importante é ser visto, notado, aclamado ou, pelo menos, agir como um hater que gostaria de ter tudo isso, mas não passa de um covarde escondido atrás do anonimato ou da falsidade, enquanto interpreta um personagem bonzinho.

O campo das vaidades está lotado, enquanto o dos afetos está deserto.

Porque as pessoas acreditam que a ostentação de status tem consistência, quando na verdade é apenas um vazio que sustenta a depressão.

Ninguém tem tempo para amar porque estão ocupados demais procurando ser amados, idolatrados, para compensar a pobreza de suas almas, a amargura das frustrações e a sensação de mediocridade sobre si mesmo trazida pela culpa de sua própria maldade e por não corresponder às exigências exageradas que fazem si mesmos.
Ninguém mais entende que gentileza gera gentileza.

Em busca de paz, as pessoas preferem optar por um remédio que agride à saúde, embora a superficialidade da ilusão narcisista seja incapaz de acalmar nossa alma.

Pois, só o amor tem o poder de preencher nossos vazios.

A gente olha para o lado e não tem com quem contar. É tanta perversidade, tanta contrariedade gratuita, tanta deslealdade pesando em ombros que deixaram de ser amigos, que já não há para quem confiar segredos, desabafar sem parecer uma falsa vítima.

Estamos cercados apenas de vampiros sedentos por nossa dor para não terem de sentir as suas próprias.Nós entendemos tudo isso, mesmo que apenas com a angústia que pesa em nosso peito. E diante de tanta solidão, desprezo e indiferença, encontramos nosso melhor amigo em um remedinho tarja preta. Que defende nosso amor-próprio do cônjuge, nosso sono dos colegas e nossa autoestima de toda a crueldade e egocentrismo que nos cerca.

O antidepressivo é o amigo perfeito. Ele nos salva da depressão, elimina nossa raiva, resgata nossa confiança sem exigir nada em troca, a não ser um tanto da nossa saúde.

E deixa como legado a cura para a falta de amor, o que é uma grande tragédia, porque não são os remédios, mas os relacionamentos que deveriam deixar nossa alma em paz.

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